Um forte temporal ocasionou deslizamentos de terra em encostas de morros, alagamentos e a perda de 45 vidas humanas por toda a Baixada Santista, entre a noite de 02 de março e a madrugada do dia seguinte, em 2020.
Lembro de estar no quarto, sentado em frente ao computador editando fotografias antigas quando a chuva começou. Adiante, notando que a intensidade não diminuía, olhei pela janela e as ruas estavam alagadas. Resolvi descer. Preparei os equipamentos e as vestes que usaria e comecei a caminhar com cuidado em meio aquela água suja que sucumbia calçadas e até mesmo algumas muretas.
Fotografei muita gente enfrentando o caos para voltar às suas casas ou enquanto trabalhavam. Além de carros em pane, tinha muito lixo. Decidi parar quando percebi que as inundações seguiam fortes. Certo medo me envolveu em ficar ali.
Não imaginava acordar na manhã seguinte com a notícia dos deslizamentos e mortes ocorridas nos mesmos momentos em lugares pouco distantes, mas invisíveis a muitos olhares e preocupações. Desde então, sempre que chove forte, penso no que pode estar acontecendo “da ponte para lá”.
Era previsto que o volume de chuva fosse de 257 milímetros para Santos, 254 para São Vicente e 263 para o Guarujá, durante todo o mês de março. Nesta única noite, choveu 239, 207 e 320mm, respectivamente em cada cidade.
Das 45 vítimas, 34 estavam no Guarujá. Os locais mais impactados na cidade foram o Morro do Macaco Molhado, com 9 mortes e o Morro Barreira João da Guarda, com 22. Ambos escancaram a desigualdade social tremenda que domina o Brasil.
Famílias são forçadas a morar em áreas de risco, em casas muitas vezes formadas de madeirite sobre terrenos instáveis.
No primeiro ponto, os bombeiros Marciel de Souza Batalha, de 46 anos, e Rogério de Moraes Santos, 43, estão dentre as vidas perdidas. Eles foram atingidos e soterrados pelos escombros de um segundo desmoronamento durante operação de resgate na zona de risco.
Com a crise climática se intensificando, esses episódios estão se tornando cada vez mais frequentes. É fundamental que nos mobilizemos enquanto sociedade para transformarmos a realidade futura dos nossos.
Essas fotografias fiz enquanto acompanhava voluntários retirando os escombros em busca de vítimas. Muitos eram parentes de pessoas que foram soterradas, outros eram moradores da região.
Pessoas vinham de cidades vizinhas contribuir com a mão de obra e de alguma maneira amenizar a dor dos que perderam entes queridos. Eu mesmo, ajudei a retirar um pouco dos escombros… não durei mais de meia hora nesta árdua tarefa. O trabalho era braçal, bastante intenso e a infraestrutura era escassa.
Texto e fotografia: Felipe Beltrame.
Comments